Durante muito tempo, Feira de Santana ostentou, além do indiscutível título de Princesa do Sertão, o de cidade com as melhores oficinas mecânicas e de pintura automotiva do Norte/Nordeste. Essa parte da história, que foi escrita por homens de pouca formação escolar, mas de inteligência, determinação e amor ao trabalho, reserva um capítulo especial para o pernambucano de Olhos d´Água de Figueira, Limoeiro, Themístocles Teixeira.
É um capítulo bem romanesco, que o fez deixar a terra onde vivia e viajar do interior do vizinho Pernambuco para Salvador, onde seu irmão Joaquim Teixeira administrava uma fazenda de plantio de cocos, na Vila da Graça, hoje Linha Verde. Isso ocorreu em 1947, portanto, há 77 anos. Namorando ou quase noivo em Pernambuco, Themístocles sofreu uma forte decepção amorosa e, para "fugir" da tormenta, resolveu embarcar para a capital baiana e ficar perto do irmão.
Mas, como os caminhos da vida são imprevisíveis, logo conheceu a jovem Amenália Exalto da Silva. O casamento foi concretizado em pouco tempo e, o caminho natural foi Feira de Santana, que despontava como passagem obrigatória no roteiro Norte/Sul para todos os motoristas. Mecânico extremamente habilidoso e munido de sua maleta de ferramentas, Themístocles improvisou um local de trabalho sob uma frondosa jaqueira próxima ao campo do gado, onde hoje fica o Museu de Arte Contemporânea Raimundo Oliveira. As estradas de rodagem, na época, eram péssimas e os caminhões passavam por aqui em mau estado.
Com a sua técnica apurada, Themístocles era a salvação. Logo, a sombra da jaqueira tornou-se imprópria para sediar a oficina, com tantos carros que chegavam. Ele, inteligente e operoso, construiu um galpão com o pomposo nome: Oficina Pernambucana. Mas a enorme demanda requeria algo mais expressivo e adequado. Ele, resoluto, foi ao dono da gleba, Leolindo Lourenço Silva, e no dia 2 de novembro de 1952, adquiriu a área desejada para construir o prédio da oficina no mesmo local, final da Rua Castro Alves. Pouco tempo depois, estaria de volta a Leolindo Silva para adquirir praticamente todo o quarteirão.
Na época, as longas viagens em estradas de barro esburacadas, sem sinalização e sem nada além da demora, acabavam com as pontas de capa dos carros, que tinham de ser substituídas, gerando mais atrasos e prejuízos. Na Oficina Pernambucana, ele instituiu um reparo rápido, ganhando fama. Inteligente, aplicava o dinheiro que ganhava em máquinas e equipamentos. A oficina teve o primeiro torno mecânico da Bahia e também a primeira máquina de fresar, tão importante que só existiam três no Brasil, e uma delas pertencia à Marinha Brasileira.
A recuperação das pontas de capa danificadas, coisa que ainda não existia e que foi criada por ele, acelerou os trabalhos na oficina, que deixou de fechar à noite para atender veículos de todo o Norte/Nordeste e de outras regiões. O expediente de funcionamento passou a ser de 24 horas, outra inovação nesse segmento na Bahia. A garantia de um ano, dada pela oficina nos serviços realizados, foi outro fator primordial para a confiança que nela depositavam os donos de carros. Basta dizer que, em 10 anos, só foram registradas três reclamações, logo sanadas. Quando começou a fixação do Centro Industrial do Subaé (CIS), décadas depois, muitas empresas recorriam à oficina para fabricar peças, uma vez que, na Bahia, só ela tinha essa capacidade.
Espírita e devoto de São Pedro, Themístocles jamais permitiu a abertura da oficina no dia dedicado ao Santo, bem como na Sexta-Feira Santa. De coração sensível, ajudou muitos funcionários da oficina a adquirirem casa própria e, como membro da Maçonaria, construiu uma escola até hoje existente ao lado do Fórum Filinto Bastos. Pacifista, gostava de colecionar armas, mas nunca fez um disparo. Foi dele o primeiro automóvel Packard que circulou em Feira de Santana.
Themístocles Teixeira, rapaz pobre e desiludido, devido a um romance rompido em Pernambuco, faleceu nesta cidade em 1986, rico e prestigiado, graças à sua capacidade de trabalho, humanitarismo e respeito a todos. Foi um exemplo para gerações e o nome da Oficina Pernambucana, embora ela já não exista, está inserido na memória de Feira de Santana.
Por Zadir Marques Porto
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