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A Rádio Carioca mudou os padrões da radiofonia em Feira de Santana

Acostumado a ouvir duas emissoras locais – Rádio Sociedade e Rádio Cultura –, com programações semelhantes e locutores com estilo parecido na forma...

02/12/2024 09h46
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Por: Redação Fonte: Prefeitura de Feira de Santana - BA
Foto: Divulgação - Arquivo ZMP
Foto: Divulgação - Arquivo ZMP

Acostumado a ouvir duas emissoras locais – Rádio Sociedade e Rádio Cultura –, com programações semelhantes e locutores com estilo parecido na forma de comunicar, mas com características próprias, o público feirense foi surpreendido, em 17 de fevereiro de 1968, com a entrada no ar da Rádio Carioca de Feira (1.210 kHz), com sede na Avenida Senhor dos Passos, local que hoje é ocupado por um estacionamento. A terceira emissora da cidade tinha “um só locutor” e uma programação literalmente diferente das existentes.

Em poucos dias, por curiosidade e atraídos pela qualidade da programação musical, pela hora certa a cada intervalo de quatro ou cinco minutos, em média, e pela voz do “único locutor”, ocorreu uma verdadeira migração de ouvintes para a emissora pertencente à Organização Radinterior – Alceu Nunes Fonseca Cia Ltda, com a liderança do forte empresário carioca desse segmento, que possuía emissoras com a mesma marca funcionando no Rio de Janeiro e em Guarapari, no Espírito Santo, além de representar cerca de duas dezenas de outras emissoras de rádio no país.

Estrategicamente, o portão do prédio ficava fechado e, quando uma visita tinha acesso, dificilmente chegava a uma das duas cabines de locução para ver o “pobre locutor” que trabalhava o dia inteiro, das 5 horas até a meia-noite de segunda a sexta-feira, e até às 2 da madrugada aos sábados e domingos. Na verdade, eram quatro profissionais em sistema de revezamento de quatro em quatro horas. O segredo estava no timbre de voz abaritonado de todos, portanto semelhante, e na técnica de padronização utilizada – a mesma distância do microfone, a modulação, o ritmo e a expressão idênticos.

Enquanto o ‘mistério’ não foi dissipado, o que ocorreu com o passar dos dias, muitas pessoas ficaram sem entender. Outro mistério era o funcionamento normal da emissora aos domingos, enquanto as emissoras Sociedade e Cultura estavam fora do ar. Isso ocorria porque, durante algum tempo, a Coelba, em fase de expansão da rede elétrica, paralisava o fornecimento de energia durante parte do dia de domingo, mas com um comunicado prévio aos usuários.

A Carioca, simplesmente, instalou dois grandes geradores, um no parque de transmissão e outro na Avenida Senhor dos Passos, onde a empresa funcionava. Toda a programação de domingo era gravada previamente durante a semana, em fitas de rolo, com gravadores AKAI de última geração, e, às 6 horas de domingo, com energia própria produzida pelos geradores, o operador do horário soltava a fita e assim ia até o encerramento dos trabalhos. Esse sistema, muito tempo depois, foi utilizado por outras emissoras. Hoje, com a tecnologia avançada e o uso de computadores, as programações gravadas são habituais.

A emissora de Alceu N. Fonseca usava um sinal de tempo simples e peculiar, que tomou conta da cidade. Por onde alguém passasse, o sinal identificava a recepção da Carioca, que tinha programação diferente das congêneres, pautada em: “Música, hora certa e notícia”. Usava também alguns slogans que marcaram, como “Carioca, o Som da Cidade”, sempre acompanhado de um sinal musical.

Outro item importante acontecia no final de ano, quando Roberto Carlos lançava o LP, disco anual pela CBS. A Carioca recebia o material antes das demais emissoras devido ao estreito relacionamento do artista com a família de Alceu Fonseca, ao ponto de ter apresentado um programa na Rádio Carioca do Rio de Janeiro e ter sido namorado de uma das filhas do empresário, conforme era comentado na época. Ao contrário das demais emissoras, a Carioca não transmitia jogos de futebol devido ao sistema padrão, mas nos dias de jogos mantinha plantão esportivo, com dois locutores, que perdurava até o encerramento dos trabalhos da emissora, enquanto as outras emissoras, ao terminar o jogo, encerravam o plantão.

Outra novidade introduzida pela emissora do Rio de Janeiro no final da década de 1960 e início da década de 1970 foi o funcionamento ininterrupto (24 horas no ar), principalmente no final de ano, devido ao excesso de propagandas. Era a única forma de atender à demanda comercial. A primeira equipe da Carioca de Feira teve os seguintes integrantes: diretor Sidney Miranda (Sid Miranda), gerente Avido Medeiros, diretor de programação Aldair Aleixo, locutores Esdras Magalhães, Alberto Henrique, Zadir Marques Porto e Cícero André, noticiarista Marcone Leão, operadores de som Antônio Batista, Jorge Rios, Edmilson Mascarenhas, Antônio Carneiro e Edmilson Sá Barreto, discotecário Everaldo do Carmo, e no escritório, Railda Cássia, Marina Sá Barreto, Maria Guadalupe, Vivaldo de Jesus, Valdir Maciel e Elísio Almeida. Transmissores: Valdomiro Santos e Manoel Luciano. Na cozinha, Dona Flora. Engenheiros de som: João Roberto e Júlio Eleutério Santos. 

Com o falecimento de Alceu N. Fonseca, a emissora ficou sob a responsabilidade de uma de suas filhas e, nesta cidade, foi dirigida por Júlio Eleutério. Em 1991, já sem a programação padrão, a emissora foi adquirida pelo empresário Roberto Pazzi, que a transformou na atual Rádio Povo.

Por Zadir Marques Porto



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