Mandacaru: De hotel de turismo a um grande centro empresarial

Na década de 1960, a ideia de alguns empresários visionários era dotar Feira de Santana de um grande hotel de turismo. Tudo corria bem para isso, com o projeto elaborado pelo competente José Monteiro Filho, mas não houve concretização. Em vez do hotel, a cidade ganhou o Centro Empresarial Mandacaru.

Meados da década de 1960, o município de Feira de Santana, com uma população estimada em 150 mil habitantes, majoritariamente residente na zona rural, mas embalado pela onda de progresso que se acentuava, queria muito mais. A ideia era um grande hotel com capacidade de atender ao momento e ao futuro, já que o tradicional Hotel Solar Santana, na Avenida Senhor dos Passos, de muitos serviços prestados à comunidade, se apequenava perante o acelerado progresso da Princesa.

Assim surgiu o sonho de um grande hotel capaz de competir com similares de outras importantes cidades. Um grupo de empresários locais, dotados de otimismo e espírito empreendedor, resolveu tocar a ideia por meio da constituída Saci Empreendimentos e Planejamentos S/A. Com a área adquirida na confluência da Rua Conselheiro Franco com a Rua Deputado Melo Lima, o nome do empreendimento também foi definido: Grande Hotel Mandacaru, justificado pela posição geográfica de Feira de Santana, porteira do semiárido ou do sertão, como se dizia então, já que o mandacaru é uma planta nativa da região.

O projeto foi elaborado em 1966 pelo jovem e competente arquiteto José Monteiro Filho e, conforme a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), o custo do investimento foi estimado em $4.500.000,00 (valor da época). O Hotel de Turismo Mandacaru contaria com 47 apartamentos amplos e 33 suítes refrigeradas, boate e estacionamento no subsolo. Todavia, a consecução do pleiteado projeto não se consolidou e a ideia do hotel foi transformada no Centro Empresarial Mandacaru.

Um detalhe importante, lembrado pelo publicitário Vivaldo Lima, foi a propaganda elaborada por uma agência de Salvador. A peça estampava: “Saia da Esquerda e venha para a Direita”, aludindo assim à Rua de Aurora (Desembargador Filinto Bastos) como a Esquerda e à Rua Conselheiro Franco como Direita (pois a rua era assim chamada). Criou-se um impasse de ordem política, pelo uso das expressões Direita e Esquerda, comuns entre os que militavam na política partidária local.

O sonho de muitos não atingiu a materialização como um hotel, mas para os jovens da época, a edificação de quatro pisos, localizada na Rua Conselheiro Franco, teve uma importância muito grande. Nos finais de semana e domingos, eram realizadas festas na boate instalada na cobertura do prédio, ainda com piso de cimento, com grande afluência da juventude. “Assisti Ronnie Cord, Brazilian Beats, Renato e Seus Blue Caps, Vanusa, Waldick Soriano, Diana e outros artistas de sucesso daquela fase”, lembra Antônio Lucrécio Alves Bantin, na época adolescente e hoje um dos comerciantes instalados no Mandacaru. A mesma lembrança tem Ademir Franco, funcionário do SAC, acrescentando que foi realizada na boate do Mandacaru uma importante Feira de Arte em 1964.

Se o grande hotel não veio a ser concretizado, o prédio de quatro pavimentos hoje conta com um total de 154 salas ocupadas: lojas comerciais, escritórios de contabilidade e serviços predominam. Antônio Lucrécio, cearense de Santana do Cariri, que veio para Feira de Santana com os pais aos sete anos de idade, proprietário da Lanchonete Tuti Fruti, comemora 38 anos do seu estabelecimento, 20 dentro do Mandacaru e os demais em uma loja bem em frente ao prédio.

“Aqui funciona como um grande condomínio e cada um é dono do seu espaço. Tenho essa lanchonete e outra sala ao lado. Não há dificuldade, nem problema; cada um paga o condomínio, água, energia, e o ambiente é de tranquilidade”, diz. José Alberto Dias Silva tem seu escritório de contabilidade no terceiro piso há 30 anos e reforça que a harmonia é predominante no Centro Empresarial Mandacaru. “De dois em dois anos é feita a eleição do síndico. Nós pagamos energia, água e segurança como em qualquer condomínio”, explica José Alberto Dias.

Pela excelente localização, no setor comercial da cidade Princesa, o Centro Empresarial Mandacaru cumpre uma importante missão para os que ali estão instalados, o que talvez não acontecesse com o desejado hotel de turismo que ensejou o seu projeto original.

Por Zadir Marques Porto