Autor de mais de duas centenas de livros de cordel, na maioria de indiscutível qualidade, como Os Coiteiros do Bando de Lampião, A Feira-livre da Princesa do Sertão, O Jegue que Mordeu a Moça na Baixa dos Sapateiros, As Palhaçadas de João Errado e Os Perigos de Fernando e Joventina, Antônio Alves da Silva, para muitos, foi um dos melhores cordelistas do país e o mais destacado da Bahia.
Baiano de Mata do São João, mas radicado em Feira de Santana durante mais de meio século, Antônio Alves, falecido em 2013, deixou um vazio na literatura de cordel da Bahia ainda não preenchido. Quem diz isso é o experiente folheteiro e cordelista Jurivaldo Alves, detentor da Cordelteca, o maior acervo de livros de cordel da Bahia e profundo conhecedor do assunto. Embora respeitando o feirense Franklin Machado, o soteropolitano Cuíca de Santo Amaro e o alagoano Rodolfo Coelho Cavalcante, que deixou seu nome na história, ele não hesita em opinar.
Além de dotado de espírito crítico e extremamente observador, até mesmo quando parecia não atentar para o fato, Antônio Alves possuía enorme facilidade para transformar em versos uma situação que lhe surgisse. Rimas metrificadas com perfeição davam ao seu trabalho a dimensão de extrema qualidade na abordagem dos mais diversos temas, como episódios envolvendo paixão, disputas, fatos ocasionais, sobrenaturais e fantasiosos. "Antônio Alves tinha criatividade e o raro poder de transformar um fato vivenciado ou algo que ele imaginasse em uma história capaz de envolver o leitor, deixá-lo absorto e crente naquilo que leu, mesmo quando sabia que se tratava de uma fantasia", garante Jurivaldo.
Em Mata São João, com menos de 20 anos de idade, ele começou a escrever, inspirando-se em nomes como Leandro Gomes de Barros, Manoel de Almeida Filho, Minelvino Francisco, Antônio Teodoro dos Santos, Erotildes Miranda, João Ferreira e João Gomes de Barros, dentre outros do 'primeiro time do cordel'. Filho do casal de agricultores Ambrósio Prudente da Silva e dona Leonor Alves Nascimento, Antônio Alves começou a vida mourejando na enxada, mas ao conhecer livros de cordel adquiridos pelo pai, decidiu que faria parte daquele mundo, bem diferente do seu.
Deixou a zona rural para ser ajudante de caminhão e teve a oportunidade de trabalhar na Petrobras, a convite de um tio, funcionário da empresa, mas já havia decidido ir para o Rio de Janeiro. Na antiga Capital Federal, conheceu Azulão da Paraíba (João José dos Santos), considerado um dos mais importantes cordelistas do Brasil. Orientado pelo consagrado autor, logo estava lançando suas primeiras obras com boa aceitação. Foi quando decidiu o que já estava pensando há muito tempo: voltar para a Bahia, especificamente para Feira de Santana, onde os cordelistas gozavam de grande prestígio e vendiam muito na mais famosa feira-livre do país.
Jurivaldo Alves lembra que, na época, os livros de cordel eram lidos nos alto-falantes da cidade nos dias da feira-livre (segunda-feira), e isso fazia com que houvesse uma grande procura por parte dos moradores da zona rural e de outras cidades que vinham a Feira de Santana fazer compras e vender produtos agrícolas, de tal modo que repentistas, forrozeiros e cordelistas de outras cidades e estados vinham morar aqui, a exemplo do alagoano Rodolfo Coelho Cavalcante, que se fixou na Cidade Princesa durante bom tempo.
Conta Jurivaldo que havia conhecido Antônio Alves em Ipirá, mas, vindo trabalhar em Feira de Santana, na Pensão Jacobina, aqui reencontrou-o e o ouviu quando escrevia ‘Os Perigos de Fernando e Joventina’, história baseada em um caso real ocorrido na Rua do Meio, como era chamada a Sales Barbosa, com o filho de um rico fazendeiro. Vinte anos depois, os dois voltaram a se encontrar, e Jurivaldo falou sobre o livro, mas Antônio Alves já não lembrava da história completa. Jurivaldo, que havia memorizado o enredo, repetiu-o, e isso facilitou a republicação de ‘Os Perigos de Fernando e Joventina’, considerada a principal obra de Antônio Alves, que teve lançamento através da Editora Luzeiro, até hoje a mais importante do gênero no Brasil.
Todavia, a primeira obra de Antônio Alves foi ‘As Aventuras de Chico Vira Mundo e a Vingança de Elias’, que ele vendeu em 1955 ao famoso Rodolfo Coelho Cavalcante. "Apesar do sucesso como cordelista, ele gostava mesmo era de sonetos e tinha alguns excelentes, mas nunca os publicou", ressalta Jurivaldo. Antônio Alves, que também era comerciante, faleceu em Feira de Santana em 2013, deixando viúva dona Rosa Alves, já falecida. O casal teve cinco filhos, mas nenhum seguiu os passos do pai. "Na verdade, depois de viver mais de meio século aqui, podemos considerá-lo como feirense", concluiu Jurivaldo, que pretende homenageá-lo no Dia do Cordelista.
Por Zadir Marques Porto
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